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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fila, estresse e muita paciência


Filas imensas serpenteando plataformas, estresse, homens e mulheres pendurados nas portas, gritaria, empurra-empurra, superlotação. É o cotidiano de quem depende dos ônibus que integram a rede de transporte público para se deslocar em Fortaleza


Sexta-feira, 6h30min. No Terminal de Messejana, enquanto aguarda o próximo ônibus da linha Ytamaraty-Elisabeth II, a menor fila àquela hora, o mecânico José Alberto, 35, pergunta-se: será que hoje vai dar certo?

A resposta, que leva em torno de 15 minutos para chegar, o obriga novamente a ir até o trabalho, uma oficina na BR-116, em pé. Alberto era apenas o 7º na fila. Mesmo perto, ele não se frustrou. Afinal, tão improvável quanto vencer repetidamente a rifa de um carneiro na churrascaria da esquina é conseguir um assento vazio no ônibus. ``Nunca soube o que é vir sentado. Toda vida viajo em pé. Na ida e na volta é assim``.

Há quatro anos a rotina é a mesma para Antônio Gomes, de 56 anos. Ele trabalha numa fábrica de embalagens, também na BR. Ao ver a fila do Ytamaraty-Elisabeth, pergunto se a linha dispõe de mais veículos, se nela viaja mais sossegado. "Nada, aqui é a pior que tem. É porque acabou de sair um". Antônio mora no Conjunto Ceará. É quase vizinho do companheiro de fila, o mecânico Alberto, que mora em Caucaia, na Região Metropolitana.

Mesmo sem se conhecerem, os dois têm histórias parecidas: residem em regiões distantes dos locais onde são empregados, acordam às 5 da manhã, devem entrar no trabalho três horas depois, apanham de três a quatro ônibus para atingir o destino final. Não bastasse, ainda veem a lei da física cujo preceito fundamental (dois corpos jamais ocupam o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo) ser desafiada constantemente.

Após visitar quatro dos sete terminais de integração da rede de transporte público de Fortaleza, O POVO chegou a pelo menos uma conclusão: cada usuário de terminal alimenta a crença de que se serve da pior linha a circular na cidade. Por exemplo: ainda em Messejana, o técnico em panificação Francisco Gomes, 42, diz esperar até 15 minutos pelo Messejana-Frei Cirilo/Expresso. "Esse demora. Tem vezes que perco a hora pra ir trabalhar". Lígia Pinheiro, empregada em um escritório no Centro, reclama da superlotação. "O Expresso já vem cheio, mas a gente tem que ir de qualquer jeito".

Horário de pico
Todos os dias, cerca de 1,2 milhão de pessoas utilizam ônibus na Capital. Nos horários de pico, 1.682 veículos trafegam pelo xadrez das ruas da cidade, que possui 237 linhas. Essas mesmas vias recebem 650 mil carros. Sem contar os milhares de motos, claro. Atualmente, a velocidade média desses ônibus é de 12 a 13 km/h, mas cai para 2 km/h em trechos mais engarrafados, como parte da avenida General Sampaio. Segundo dados da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), a taxa ideal é de 20 km/h.

Esses números devem ser levados em conta se quisermos entender por que o comerciante Gledson da Silva, 29, extrapola em até 20 minutos o horário chegada na empresa onde trabalha, no Castelão, e, na volta, chega a esperar até 1h40min por um ônibus da linha Paranjana. Às 6h30min da última terça-feira, no terminal da Parangaba (335 mil passageiros em 3.941 viagens por dia), Gledson lamenta: ``A gente paga a tarifa, mas não tem conforto``.


EMAIS

- Atualmente, há sete terminais de integração em Fortaleza: Antônio Bezerra, Papicu, Lagoa, Parangaba, Conjunto Ceará, Siqueira, Messejana.

- Com 228.177 passageiros e 3.941 viagens programadas por dia, o terminal da Parangaba é o de maior movimentação. Lá, 56 linhas são operadas.

- A de maior demanda é a Parangaba-Papicu / Via Montese.

- De 2004 a 2008, a tarifa de ônibus manteve-se congelada em R$ ,60. Somente em maio de 2009 esse valor foi aumentado em 0,20 centavos.


PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

POSITIVOS:

> Valor da passagem. Com R$ 1,80, é possível deslocar-se por Fortaleza inteira.

> Idade média da frota, que é de cinco anos e bem conservada.

> Capilaridade do sistema de transportes. Com sete terminais de integração e 237 linhas de ônibus, os bairros mais distantes servem-se de transporte.

> Adaptação para cadeirantes. Mesmo insuficiente e distante do ideal, já há 380 ônibus e 21 vans adaptados.

NEGATIVOS:

> Ônibus circulam superlotados. Mesmo novos, o desconforto é insuportável.

> Falta capacitação para motoristas e cobradores. Muitos profissionais são despreparados para lidar com pessoas cotidianamente.

> Tempo de espera. Hoje, espera-se muito por ônibus, sobretudo nos fins de semana e feriados.

> Faltam equipes de primeiros socorros nos terminais.

FONTE: JORNAL O POVO, 05/05/10

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